Sem ruídos

quarta-feira, junho 22, 2005

Sozinho pelas ruas de Viseu

Confesso que os últimos dias não têm sido nada fáceis. Sinto-me cansado, mas isso já toda a gente sabe. Tenho medo de voltar a entrar em depressão, da última vez foi tão horrível, não quero, não quero... save me from this madness... "e por mais eu sofra ou não sofra, ela é quem diz por onde vou... mesmo que eu digo que não quero ser escravo dela..."
Já não aguentava estar em casa, já não aguentava este calor, peguei no meu carro e quis fugir... apesar de ter o depósito cheio, apenas andei 25km... em viseu parei, em viseu deixei o carro e em viseu andei, passei, por viseu andei não sei por onde e por todo o lado...
Com os meus passos o meu pensamento fluia ao sabor da pequena brisa que tornava o percurso suportável. Recuso-me a mudar quem sou, não quero, não quero, nem que para isso esteja destinado a sofrer. Não me tirem aquilo que de mais precioso tenho dentro de mim, não me levem a crença que o mundo pode ser um só, que os homens podem ser felizes... por que é que acreditar me trás tristeza, vivo eu num mundo assim tão diferente? Serei eu assim tão estranho para todos nós. Serei assim tão clarividente. Não quero, tirem-me este peso. Quero ser ignorante como todos vocês. Não quero este amor dentro de mim, quero um coração mais pequeno, façam-me um transplante. Quero ser feliz como todos vocês.

Triste, estou triste...

Cheguei ao fim da noite, e fiquei triste, mesmo triste. Já não consigo dizer que fico desiludido, porque já não consigo mais. Cada pessoa nova que conheço apenas vem confirmar tudo... Mas aquilo que mais me deixa triste é aperceber-me que o mundo é injusto, que apenas coloca obstáculos à felicidade. Por que é que as coisas não são mais simples? Porque não acreditas tu em mim? Porque tiveste de me por em causa? Fiquei triste contigo, em parte tinhas razões porque eu tas dei... mas partiste logo do princípio que eu era igual a todos os outros homens que tu já conheceste... com o tempo verás que não, com o tempo verás aquilo que sou, espero não se depois tarde demais...
Amanhã faz-me sorrir... sim aquele sorriso que eu queria ver nos teus lábios e te desejei ao levantar...

domingo, junho 19, 2005

Escuridão (II)

Tento acalmar-me. Sinto a minha pele deformada. Passo a mão pela cabeça e a minha cabeça foi rapada. Tento concentrar-me e lembrar-me da última coisa que fiz, do último local onde estive. Mas não consigo! Lembro-me de há alguns anos ser escriturário no departamento de segurança do minstério da agricultura. Depois disso acho que estive no mistério da justiça, mas não me lembro as minhas funções.
Não sou casado e não tenho filhos. Moro só num pequeno apartamento na baixa da cidade. Ando sempre de metro ou a pé. Levanto-me às 6:54, tomo duche, tomo café e vou para a rua, caminho cerca de 700 metros e apanho o metro das 8:11 para Campo Vilar, o seu trajecto demora sempre 17 minutos.
Sempre fui púdico a mostrar o meu corpo. Ainda me lembro na praia ou na piscina, sempre me senti pouco à vontade, quando as raparigas olhavam para os meus peitorais musculados do ginásio ou para a elegância de todo o equilíbrio corporal. E agora estou aqui nu, neste quarto escuro, sem preconceitos e prejuízos.
Passa-me pela cabeça gritar, mas isso é daquelas coisas estúpidas que as pessoas fazem nos filmes. De que me adianta gritar? Só se for mesmo dar a conhecer que acordei e estou pronto para saber o que verdadeiramente se passa. Mas como não sei um dos próximo passos será bom para mim é preferível ficar aqui quieto e calado.
Do lado de fora não ouço nada, não consigo supor onde esteja. Não sei o que me rodeia, nem suponho se realmente alguém está do outro lado!

terça-feira, junho 14, 2005

Eugénio de Andrade

Só tenho um livro de Eugénio de Andrade, e por mais estranho que pareça são poemas para crianças. Está fora de casa, mas em breve quando regressar, transcrevo algumas das suas palavras mais belas. Até sempre que as palavras de um poeta são eternas.
Voltou...

Aquela nuvem



- É tão bom ser nuvem,
ter um corpo leve,
e passar, passar.



- Leva-me contigo.
Quero ver Granada.
Quero ver o mar.


- Granada é longe,
o mar é distante,
não podes voar.



- Para que te serve
ser nuvem, se não
me podes levar?


- Serve para te ver.
E passar, passar.

sexta-feira, junho 10, 2005

Escuridão (I)

Acordei no escuro, já estava tão cansado de dormir. Não sei quanto tempo dormi. Não sei onde estava nem como cá vim parar. Não me lembro de como tudo aconteceu. Lembro-me do meu nome, por isso não é amnésia. Recordo-me de na minha infância andar de baloiço, correr pela areia e chegar perto do mar, recuar com medo, volta a assustá-lo! Não me lembro se ontem foi há 3 dias ou há uma semana.
Olho em volta e não vejo nada, não sei se fiquei cego ou se realmente no escuro apenas se enxerga o preto. Levanto-me do chão, apalpo o chão em pedra, frio, áspero, magoou-me o corpo enquanto dormia. Sinto ainda as saliências das pedras entranhadas na minha pele. Vou circulando em volta, com os braços estendidos, rodando de um lado para o outro, procuro reconhecer o perímetro da sala fechada em que me encontro. Pé ante pé, embato num banco num dos cantos. Ainda me deixou uma pequena marca no joelho, com os dedos sinto-os húmidos, deve ser sangue.
Aproveito para me sentar. Andei poucos metros mas sinto-me cansado. Respiro ofegante. Apercebo-me agora que estou sem roupa. Todo o meu corpo está nu.

sábado, junho 04, 2005

Uma flor

Uma flor, uma pequena flor que eu vejo a crescer no meu jardim. Chego perto dela, não muito perto para não perturbar a sua beleza. Admiro como se expõe ao Sol, as suas pétalas giram ao sabor do vento. Linda, e eu sorrio a observá-la.