Sem ruídos

quarta-feira, outubro 26, 2005

"Viajar é olhar" (Sophia de Mello Breyner Andressen)

Viajar é escolher.
“Se vês, então observa, se observas, então repara!” (Saramago, Ensaio sobre a Cegueira) Faz-me confusão, ir a uma cidade europeia, caminhar pelas ruas, olhar para todos os lados e, constantemente, ver as pessoas a tirar fotografias aos monumentos, a elas próprias à frente dos monumentos. E o resto? Onde está tudo o resto que não está no roteiro?
Quando me perguntam, quais as coisas que não consigo passar sem, eu respondo sempre sem hesitar: papel e caneta, música e viajar. Estas são as minhas escolhas para esta vida. São aquelas que mais prazer me dão e mais me ajudam a definir-me como sou e como quero ser.
Viajar é absorver.
Há dois meses estive em Paris pela segunda vez. Perdi-me no metro como sempre (adoro); não fui visitar a Torre Eiffel como toda a gente esperaria. Procurei lojas de livros usados, visitei pequenas galerias de artistas plásticos, passeei por pequenas ruas até me doerem os pés, não vi nada mais do que habitantes locais, nas suas vidas diárias. Comprei uma baguette de pão para o lanche e sentei-me em frente ao Sena. Ao terceiro dia, choveu. Aquele cheiro, aquelas cores. As pessoas a abrigarem-se, as gotas a caírem pelo pescoço. Ou quando, a seguir rumei para Praga e me assustei ao entrar na cidade com a sua escuridão, uma tez cinzenta que revelava uma simpatia e uma magia, em terras com um coração maior do que as minhas mãos.
Ainda não me consegui livrar da máquina fotográfica digital, por vezes é um complemento da minha mão. Ainda preciso dessas memórias, não para recordar, mas para partilhar. Os candeeiros de rua, um velho eléctrico, uma pomba no parque, os vendedores de rua, as ruelas estreitas em que alguém todos os dias gasta as solas dos seus sapatos. Olho-as e recordo, mas aquilo que sinto, foi todos os momentos, todos os odores, todas as cores, todos os sorrisos, palavras que ouvi, tudo isto absorvi dentro de mim, todas as imagens que tenho na minha memória, que sorri sem que disso tivesse dado conta.
Viajar é viver.
Num constante deslizar da memória, sinto-me vivo quando procuro conhecer mais e mais. Sou inconformado e insatisfeito por natureza, principalmente na sede se saber, de encontrar a felicidade no rosto de uma pessoa desconhecida, quando passo distraído, nas ruelas de um local estranho aos meus sentidos.
Muitas vezes viajo a dormir, e é sempre nesta “véspera de não partir nunca, ao menos não há que arrumar malas, nem que fazer planos em papel (…) para o partir ainda livre do dia seguinte” (Álvaro de Campos), que me encontro. E é quando parto, parto deste meu casulo em que vivo todos os dias, nesta azáfama e correria do dia-a-dia, que procuro completude de uma partilha de momentos e sentimentos.
Viajar é olhar.
Viajar, viajar… queria agora viajar, em vez de estar aqui sentado no meu quarto em frente ao meu computador a escrever; queria olhar, olhar algo pela primeira vez, sentir aqueles pequenos momentos de felicidade; queria escrever estas palavras sentado no chão numa zona desértica das savanas africanas ou então deitar-me de barriga para o chão e respirar a chuva a cair e misturar-se com os cheiros das especiarias, num sabor húmido indiano; queria cruzar os braços debaixo do queixo e olhar do parapeito de uma janela a azáfama que o tempo não torna efémero nas ruas de Nova Iorque. Queria olhar, queria ver, queria observar, queria reparar…

terça-feira, outubro 11, 2005

A saltar...

Cheguei perto, descalcei os ténis e entrei.
Era um castelo de nuvens, pelo menos assim parecia sentir, a cada passo não sei se as minhas pernas pareciam desaparecer ou se me impulsionavam para um vôo superficial, tangível à minha emoção de descobrir onde me levavam estes caminhos.

sábado, outubro 01, 2005

Volta

Voltou o trabalho, voltou a falta de tempo para quase tudo, mas ao mesmo tempo o tempo ocupado com tudo e mais alguma coisa.
Hoje vou sair. Vou até Sta Maria da Feira ao Festival de Música para Gente Sentada ver o Patrick Wolf :)
Até amanhã quando tiver de volta.