Sem ruídos

quinta-feira, julho 21, 2005

Escuridão (III)

Voltei a adormecer.
Deitado no chão, não sei se pelo meio ou se a um canto, se perto ou longe do banco. Se longe ou perto de uma porta, pelo menos até agora ainda não encontrei nenhuma forma de sair ou de entrar para esta sala escura. Onde estarei eu? Como vim aqui parar? Que fiz eu para me encontrar neste situação? Pensava eu enquanto dormia, depois alguém me agarrava pelo braço, me beijava, senti-me a passear junto ao mar, de mão dada, sentindo a areia branca e fina a entrar entre os dedos dos pés, enquanto uma brisa maritíma trazia até mim um sabor a saudade.
Mal conseguia abrir os olhos, mas algo me forçava a que o fizesse. Estremunhando, mal acordado, ouvia um som. Pela primeira vez ouvia algo que não fosse a minha própria respiração. Alguém batia no chão. Era um som que vinha do chão, de debaixo do chão. Por debaixo do chão havia alguém. Por debaixo de esta pedra dura e fria, alguém tentava bater e fazer barulho. Achei estranho, durante momentos, não sei precisar quantos, estive paralisado, sem conseguir reagir. Levantei-me depois num ápice. Pensei, não sei se muito ou pouco. Pensei. Lembrei-me do banco. Até agora era a única coisa que sabia existir além de mim próprio, pelo menos dentro daquela sala. Procurei o banco, já não sei se para norte ou sul, de para o lado esquerdo ou direito. Por fim lá encontrei. Com receio, comecei a bater com ele no chão. À quarta pancada, quem batia do outro lado parou. Por breves momentos também parei. Será que devia continuar ou parar. Fiquei assustado. Mas ousei e bati mais uma vez. Passados alguns segundos. Um som ouviu-se como resposta do outro lado.
Afinal não estava sozinho.

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